Spiga

Vida de Piloto! - A Carta

No outro dia, depois de receber mais uma encomenda, pensei: realmente, deve ser das poucas coisas em que tenho sorte, NUNCA me perderam uma encomenda pelo caminho, nem ficou retida na alfândega por ter sido considerada “material suspeito”, como tanto pessoal se queixa. Por um lado é porreiro, já que quando tudo corre bem, tudo está bem, mas por outro lado, leva-me a pensar: mas porque raio é que isso acontecerá? O material que mando vir não é suficientemente “agressivo” e capaz que fazer estragos? Mas que porra... Uma caixa de dvd desde que bem arremessada, ainda é coisa para quase vazar uma vista a alguém. Mas temos aqui meninos ou quê!

Aproveito para assim, agradecer a todos os profissionais na longa linha de distribuição de correspondência que tão bem me têm servido ao longo dos anos, cuidando das minhas encomendas como se fossem suas. O meu sincero obrigado e que continuem o bom trabalho por muito tempo.

Posto isto, vamos á outra face deste sistema, aquele que mais me tem deixado “agarrado”, falo pois, desse sorvedouro de cartas que se chama, correio interno.

Isto para explicar que, no meu dia-a-dia envio correio para várias empresas nacionais, empresas respeitadas, com grandes gestores e milhares de funcionários, a única coisa que parece falhar apesar de tudo isso é o sistema de correio interno. E porquê!?

Aquele que todos nós vemos nos filmes, representado por um tipo a empurrar um carrinho cheio de envelopes de todas as qualidades e feitios (já agora, que me lembre, nunca vi uma mulher nesse papel, será que ás há? Ou é requisito principal para lidar com pedaços de papel dobrado com nomes escritos e códigos, ser homem?), que pachorrentamente distribui as cartas e dá os bons dias aos colegas, e que até parece ser um tipo de bem com a vida, sem problemas e a fazê-lo por gosto.

Ou não será bem assim, será que debaixo daquela capa de jovial, brincalhão e bem-disposto, está um homem recalcado, com os nervos em franja, que não pode ver mais correio à frente, que tem vontade de um dia acabar com aquilo tudo e dar por finalizado o reinado que lhe sugou a vida por tantos e tantos anos, enquanto outros apenas têm de ler o que lhe é devido sem preocupações, sem se terem de preocupar se seria para A ou B, se era para enviar ou para distribuir, se era para entregar na hora ou podia ir pela via normal, ele tem de ter atenção a tudo isso, enquanto olha para a próxima pilha que entretanto já se formou, ao sabor do quadragésimo-quarto cigarro da manhã.

Aqui há uns dias enviei uma carta da qual tenho a prova que foi entregue poucos dias depois de ser expedida (cá está, os funcionários dos CTT fizeram bem o seu trabalho), mas que até agora e já lá vão quase dez dias, se encontra em sítio incerto, ao que me respondem “ser normal”.

É normal para eles, que já sabem que dois dias por mês o Zé Augusto da correspondência se passa e faz uma enorme fogueira na cave com as cartas, de certo para aquecer os pés, que isto tá um frio que não se pode...


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